quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Linguagens Herméticas

Linguagem hermética, alguns significados...

 Animais normalmente tem um significado especial, como por exemplo, a representação dos quatro elementos. O unicórnio ou o veado representam a terra, peixes a água, pássaros o ar e a salamandra o fogo.

O corvo simboliza a fase de putrefação do processo, que fica da cor negra. Enquanto que um tonel de vinho representa a fermentação.

A caverna representa a fase de dissolução, quando a matéria se aprofunda, se racha e se abre.

Em muitos textos os metais estão representados pelos planetas correspondentes (veja os sete metais) pois eram preparados elixires de outros metais, além do ouro e da prata.

A balança representa o ar, a sublimação, as proporções naturais.

A figura de um andrógino ou de Adão e Eva, representam a matéria prima, composta do mercúrio e do enxofre.

O anjo simboliza a água - “Espírito da Pedra”

A matéria-prima, bem como o próprio alquimista, podem ser representados pelo bobo, pelo peregrino ou pelo viajante.

A imagem de uma rocha, cavernas, montanhas e outras representações de grandes blocos de pedra, sob o qual encontram-se tesouros. A cena ainda pode conter uma árvore, uma nascente, um dragão montando guarda, mineiros trabalhando, isto tudo evoca a matéria-prima, que também é comparada à virgem, pois ainda não recebeu o princípio masculino, ou com  uma prostituta que é capaz de receber todos os princípios masculinos, comparando assim a matéria-prima com a facilidade de unir-se aos metais. Ë capaz de abrigar dentro de si todos os metais, apesar de não ser metálica. Os alquimistas também chamavam a matéria-prima de lobo cinzento.

Uma mendiga ou uma velha representa o aspecto desprezível e repulsivo da matéria-prima ou raiz metálica.

O leite da virgem designa o mercúrio comum ou primeiro mercúrio por fluir sem cessar de uma coisa a outra, alimentar tudo e passando de um ser a outro, até mesmo da vida para a morte e vice-versa.

O eixo do mundo ou o eixo do trabalho do alquimista é representado pela árvore em que a matéria-prima constitui a raiz.




Uma luta entre o dragão alado contra o dragão áptero, de um cão com uma cadela ou da salamandra com a rêmora, representam o combate entre o volátil e o fixo, o feminino e o masculino, ou o mercúrio e o enxofre, os dois princípios que estão contidos na matéria. Enquanto que a união entre estes dois princípios é representada pelo casamento do rei e da rainha, do homem de vermelho com a mulher de branco, do irmão com a irmã (pois eles provém de uma mesma matéria mãe), de Apolo e Diana, do sol e da lua ou juntar a vida à vida. Normalmente a este casamento precede morte e tristeza.

Apanhar um pássaro significa fixar o volátil.

O leão verde normalmente é associado ao sal.

A pessoa iniciável ou a substância inicial (matéria-prima) pode ser representada pelo filho mais jovem de uma viúva (que representa Ísis) ou de um rei, um soldado que já cumpriu o serviço militar, um aprendiz de ferreiro, um jovem pastor, o filho de um rei em idade de se casar e outros casos semelhantes.

O abismo, um recife e outros perigos de uma viagem representam os cuidados ou os perigos que o fogo conduzido inadequadamente podem causar.

O dissolvente universal tanto é associado ao sal como ao mercúrio normalmente é representado por uma fonte, leão verde, água da vida ou da morte, água ígnea, fogo aquoso, água que não molha as mãos, água benta, vento, espada, lanterna, cervo, um velho, um servidor, o peregrino, o louco, mãe louca, dragão, serpente, Diana, cão, dentre outros.



Os alquimistas utilizam também alfabetos secretos, codificados, anagramas e criptografia. Além de simples sinais que identificam uma operação, substância ou objeto.

O Aprendiz

“Ora, lege, lege, relege, labora et invenier” (ore, lê, lê, relê, trabalhe e encontrarás). Esta era uma das primeiras grandes lições que o mestre alquimista ensinava a seus discípulos.

A literatura alquímica produzida pelos iniciados é bastante complexa por estar em linguagem hermética de difícil compreensão. Portanto para aqueles que pretendem se aprofundar na alquimia, o primeiro passo é ler os livros gerais para compreender os fundamentos e começar a familiarizar-se com a interpretação dos textos herméticos. Cada livro deve ser relido até a obtenção de uma compreensão mais profunda, sendo que as releituras devem ser intercaladas entre os vários textos. O último livro lido ou relido mostrará o conhecimento de todos os demais, assim como os primeiros irão ajudar a entender o último. O estudante deve se fixar principalmente nos livros que mais lhe agrada.

Apesar de tanto estudo, a maior parte do conhecimento ainda ficará incompreendida e só clareará na prática diária, ou seja, fazendo experiências em laboratório.

A paciência é uma grande virtude a ser desenvolvida, pois vários anos de estudo teóricos e práticos são necessários para alcançar uma melhor compreensão e posteriormente a conclusão da Grande Obra, sendo que no caminho muitos fracassos ocorrerão. A maior parte dos que se dedicam a alquimia desistem e muitos, apesar de não desistirem, não a compreendem mesmo durante toda uma vida. Dos poucos que conseguem concluir a Grande Obra, a maior parte leva mais da metade de sua existência para alcançar.

A iniciação talvez seja um processo semelhante ao da criação da própria pedra filosofal. Ela é considerada como um novo nascimento, a gênese para aquele que recebeu a luz e agora pode direcionar-se a caminho de um novo começo, com uma outra consciência. Constitui a morte dos conceitos errôneos e o renascimento das coisas puras e verdadeiras.

A alquimia é de difícil compreensão porque seus ensinamentos referem-se, ao mesmo tempo, às operações de laboratório e ao caminho de uma evolução psíquica e espiritual. Portanto os ensinamentos devem ser interpretados em todos os aspectos.

A observação mais acurada da natureza de todos os seus fenômenos e manifestações deve fazer parte do dia-a-dia do estudante, ou seja, ele deve sempre estar atento as transformações, aos ciclos astrológicos (do sol, da lua, dos planetas) e terrestres ( da água e dos nutrientes) e aos pequenos detalhes (dos animais, vegetais e minerais), pois todo o conhecimento alquímico, inclusive sua linguagem, provém destas observações e sabendo interpretá-las fica mais fácil compreender a alquimia.

A dica de alguns alquimistas é que o estudante faça seu laboratório em local isolado, não divulgue para ninguém suas intenções devendo ser perseverante, dedicado, calmo, paciente, honesto, caridoso, acredite em Deus e principalmente que consiga um capital para poder dedicar-se totalmente aos estudos, incluindo além das despesas básicas, livros e equipamentos para o laboratório, ou que consiga uma atividade que possibilite uma grande disponibilidade para a dedicação ao estudo. Cada um deve procurar o melhor caminho para obter tempo e recursos para uma total dedicação.

O encontro com o mestre

Apesar do estudante ter lido inúmeros livros dos iniciados, realizado experimentos em laboratório e possua inteligência suficiente, ainda não será capaz de atingir o cerne dos segredos “sozinho”. A literatura hermética é uma dádiva para aqueles que conhecem os segredos e uma tortura para aqueles que não o conhecem. “Ao que tem, lhe será dado; e, ao que não tem, até o que tem lhe será tirado”.

Quando o estudioso de alquimia estiver preparado, ou seja, quando esgotarem suas possibilidades de estudos teóricos e práticos e os conhecimentos estiverem presentes em seu consciente e inconsciente, ele encontrará a figura de um mestre que o conduzirá ao caminho da sabedoria e iluminação, tornando-o um

iniciado na arte sagrada podendo assim concluir a Grande Obra. Este mestre pode se revelar na forma de anjo ou espírito. Poucos foram os que encontraram um mestre vivo que lhes passasse os grandes conhecimentos, pois os alquimistas não revelavam seus segredos nem para seus próprios filhos, somente para os puros de espírito que estiverem preparados. O estado de semiconsciência, necessário para obter o sonho ou visão é normalmente atingido após longas horas de concentração, meditando sobre os livros ou quando parado no laboratório esperando e observando as transformações dentro dos recipientes alquímicos.

Nos relatos do encontro com um mestre, normalmente este é um homem de meia idade, veste roupas simples, têm cabelos lisos e negros, estatura mediana, magro, rosto pequeno e comprido e não tem barba. Estas são as características de Saturno, que é o “sujeito dos Sábios”, o velho, o planeta mais longe da Terra. Podendo designar também a matéria-prima.

Testamento de Nicolas Flamel (em 11 Páginas)

Breviário ou Testamento de Nicolas Flamel
Que seja feito em nome de Deus, Amém. O primeiro passo na Sabedoria é o temor a Deus.


(Postagem separada em 11 Páginas, tendo a 9, 10, e 11 bem curtas..)
Antes de começar a ler, aconselhamos que leia o Glossário para entender melhor o testamento abaixo:

(Página 1)
GLOSSÁRIO
Medidas de peso e capacidade

Escruplo - Medida de peso antiga corresponde a 1,296g (20 grãos).
Grão - Medida de peso correspondente a 0,0648g (1/7000 da libra Inglesa).
Gros - Medida de peso equivalente a 3,55g (1/128 libra).

Libra - Antiga unidade de massa equivalente a 453,59g (Inglaterra).
Lots - Antiga medida de peso alemã equivalente a 14,17g (1/2 onça).
Marco - Antiga medida de peso para o ouro e a prata correspondente a 16,6g (256,27 grãos).

Onça - Medida antiga de peso. Equivale a 28,349g (1/16 da libra Inglesa).
Pinto - Medida Inglesa de líquidos (0,586 L).a

PREFÁCIO. TEORIA

Eu Nicolas Flamel, Escrivão de Paris, neste ano de 1414, do reinado do nosso bendito príncipe Carlos VI, que Deus abençoou, e após a morte da minha fiel companheira Perrenelle, recordando-me dela, me tomei de fantasia e de satisfação para escrever em teu favor, caro sobrinho, toda a maestria do segredo do Pó de Projeção ou Tintura Filosofal, que aprouve a Deus dispensar a seu insignificante servidor, que eu fiz como tu farás se procederes como te direi. Segue, portanto, com engenho e entendimento os discursos dos Filósofos acerca do segredo, mas não tomes os seus escritos à letra, porque ainda que possam ser entendidos segundo a Natureza, não te seriam úteis. Por isso, não te esqueças de rogar a Deus que te dispense entendimento de razão, de verdade e natureza, para que vejas neste livro, em que está escrito o segredo palavra a palavra e página a página, como fiz e trabalhei com a tua querida tia Perrenelle, que recordo tão intensamente. Assim, coloquei a mestria neste livro, a fim de que não te esqueças do grande bem que Deus te concede e para que te favoreça. Isto para que não deixes, em sua lembrança, de lhe cantar e salmodiar teus louvores. E nada pode ser mais adequado para celebrar tão bom acontecimento do que cânticos exaltados. Assim, escrevi este livro pela minha própria mão, e que havia destinado à igreja Saint-

Jacques, estando na dita paróquia, depois de encontrar o livro do Judeu Abraham, não quis vender este por dinheiro e guardei-o com muito cuidado para nele escrever o dito segredo da alquimia em letras e caracteres da minha

imaginação, de que te dou a chave. Cuida, pois, de o manter secreto e não te esqueças nunca de, em silêncio, te recordares de mim, quando eu estiver no sudário, relembrando que, agora, te preparei tal documento, a fim de que

te faças um grande mestre da alquimia filosofal, pois contribuí para meu prazer, desejo, consolo e fantasia conceder-te tal segredo. Deste modo, faz como eu próprio fiz e faço ainda agora, sendo de avançada e decrépita idade e tudo em honra e

mestria da alquimia, pela via da natureza.

(Página 2)
TEORIA DE FLAMEL

Vou, pois, iniciar teu documento fazendo uma descrição clara e plena para que não confunda o teu entendimento, antes de dizer alguma coisas sobre a prática de operar. Quis conduzir-te, através da teoria do conhecimento, ao que

é a alquimia, ou seja, a ciência de converter corpos metálicos em ouro e prata perfeitos, conferindo saúde aos corpos humanos e transformando rapidamente pedras e cristais em gemas verdadeiras e preciosas. Este

conhecimento, e não existe outro semelhante, constitui-se como uma arte sem paralelo, quer dizer, Filosofal, através da qual se faz um corpo medicinal universal convertendo Saturno, Marte, Júpiter, Lua e Mercúrio em puro

Sol claro, brilhante, límpido e da cor do próprio mineral, mas ainda melhor que qualquer ouro metalífero, e que congrega em si a virtude e o poder de curar todos os males, quaisquer que sejam, de fazer evoluir todos os vegetais

antes do seu termo e de transformar todas as pedras em diamantes e rubis. Tal arte e mestria consegue-se pelo engenho da Natureza, pelo regime secreto do fogo adequado e pela industria do operador. Seguindo em tudo a

razão natural do entendimento, pouco a pouco alcançarás tudo isto, desde que não te canses jamais de cozer com paciência, sem ansiedade.

Deste modo, para que a obra filosofal demonstre que é, sobretudo, o curso da natureza, como homem de entendimento deves visar duas intenções principais: a primeira, um entendimento correto, a compreensão das

coisas que te direi. Porque eu, bem antes de trabalhar e iniciar o caminho devido, como homem de entendimento tinha já o senso da natureza do mercúrio, sol e lua, como disse no meu livro onde estão gravadas as figuras que

verás nos arcos dos ossários. Mesmo assim, fiquei retido por mais de vinte e três anos e meio a manipular sem que conseguisse conjugar a lua, que é o azougue, com o sol e expurgar as escórias do sol e a lua seminal, um veneno

mortífero para quem não conheça bem o agente ou meio de fortificar o Mercúrio, pois, sem este meio, é como água vulgar, não pode dissolver a lua, o sol ou, mais ainda, torna-se água liquefeita, fixando assim este mercúrio à

aquosidade o que, mais tarde, à força de manipular e trabalhar, finalmente descobri nas quarta e quinta folhas domeu livro de Abraham.

Por este motivo, a segunda intenção é saber como se deve fortificar este mercúrio através do agente metalífero, sem o qual não é possível, de outro modo, alcançar o íntimo do sol e da lua, os quais, sendo duros, não podem ser

abertos, a não ser pelo espírito sulfuroso do ouro de da lua. Assim, é mister que, a seguir, sejam juntos com o agente metalífero, a saber, a saturnina real e se liquefaça então o mercúrio pelo engenho filosofal a fim de que,

depois, este dissolva em licor o sol ou a lua, retire a escória significativa da sua putrefação. Sabe que não existe outra forma nem mestria de trabalhar nesta arte além da que dou, palavra por palavra, cuja obra não é nada fácil de

realizar e espinhosa de transmitir, se não for ensinada como te digo, pois Sol e Lua são corpos muito duros que não podem abrir-se totalmente com facilidade, excepto pelos espíritos mercuriais liquefeitos por vias e procedimentos

filosofais. Tudo o resto é falaz e induz ao fracasso e ao embuste em que caí, para meu grande desgosto, durante muito tempo, Sem aquele procedimento, o mercúrio mantêm-se frio, hidrópico e terroso, sem força bastante nesse

caso para cometer as vísceras dos dois corpos perfeitos Sol e Lua. Se o mercúrio não for previamente aquecido com o fogo sulfuroso metálico, a sua água branda fora do seu corpo e da terra rejeitada, fecal e negra, não passará

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de mercúrio vulgar. Nesse estado, penetrando nos seus ventres e eles no seu, tomam a vida astral, crescimento e vegetação, tornam-se vivos, tal como eram nas rochas dos minérios. Por este modo se faz a conjugação do sol, da

lua e do mercúrio filosofais, não os vulgares. Mas como pode o mercúrio liquefazer-se assim? Pondera, em primeiro lugar, que nenhuma outra água, além do mercúrio, extrai o Enxofre do ventre dos metais, da mesma forma, que

fora dele, no começo, no meio e no fim, ninguém pode abrir nem fazer nada de bom, porque é a virtude atractiva, feita activa, que faz tudo e se engravida do enxofre, tal como o enxofre vive dele.

O que tu vês é agradável, água de vapor seco sulfuroso e vapor húmido mercurial volvem-se metais, porque, um e outro, se amam e desejam uma natureza conveniente a si próprios, ou seja, a natureza persegue a natureza, nunca

de outra forma procedem o instrumento da Natureza, até mesmo na arte, porque um ama o seu companheiro assim como a fêmea atrai o macho a si, divertindo-o de quando em quando, o que vês muito claro e gracioso gravado na

imagem da Quarta figura, onde observei o jovem mercúrio com o caduceu e as horríveis serpentes em torno da vara de ouro que ele segura na mão: porque, sem isto, não teria jamais conhecido o mercúrio hermético, que compomos pelo engenho e indústria filosofais do enxofre e mercúrio metálicos, na primeira preparação.

Toma cuidado, pois, em compreender as minhas palavras, escritas com sinceridade e de boa-fé em tua intenção, querido e amado sobrinho, a fim de que não falhes coisa alguma e rogue eu a Deus pela salvação da minha alma e

use na via a equidade do nosso bom Deus, a quem suplico que, desde agora, te conceda saúde do corpo, entendimento, intenção, vontade judiciosa, retidão e lealdade de coração. Acredita firmemente que todo o

engenho da indústria reside na preparação do mercúrio filosofal, já que nele está tudo o que pretendemos, o que sempre quiseram os antigos sábios e que nós, tal como eles, nada podemos fazer sem ele preparar, o sol e a lua,

pois, fora dele nada existe em toda a esfera mundana que possa produzir a dita tintura filosofal e medicinal. O engenho natural está em que aprendamos a extrair dele a semente viva e espiritual encerrada nas suas vísceras e

entranhas. Esta semente é a matéria tão louvada pelos sábios em seus escritos e livros, os quais afirmam, sem embuste nem falácia, que a matéria da tintura transmutativa dos metais em ouro é única só e dissolve

verdadeiramente tudo, ainda que nada digam como prepará-la. Este jaz, pois, nestes três, unicamente, não em qualquer lugar, porque noutros corpos metálicos pouco tem de bom, está viciado e deteriorado, ao passo que, aqui, é puro, composto e autêntico.

Observa, então, a que ponto uma coisa não dá nada se nada possuir, por conseqüência, não vises senão ao sol e à lua, assim como ao mercúrio elaborado pelo engenho filosofal, delicadamente preparado, que não molha as mãos, e

ainda o metal que tem em si a alma metálica sulfurosa, quer dizer, a luz ígnea e, para que não te desvies do recto caminho, procura os metais, porque ai está o referido enxofre, encerrado muito delicadamente na verdade, quase

semelhante ao sol. Encontrá-lo-ás na cavernas e profundidades, as que são de ferro, de ouro e de bronze, quer dizer, o sol quase mais puro um que o outro, e se é descoberto, tal enxofre tem o poder de tingir a húmida e fria lua,

que é a prata fina, em puro ouro amarelo e bom, mas é necessário que se prepare pela medicina espiritual, ou seja, a chave que descobre e abre todo o metal que te direi. Agora, reflete sobre que espécie de mineral é um ladrão

que come tudo excepto o ouro e a lua, que torna bom este ladrão, pois quando os detém no seu ventre, então está apto para preparar o azougue, tal como te ensinei a seu tempo.

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PRÁTICA

Não te afastes então, do resto do caminho e reporta-te às minhas outras explicações. Em seguida, trabalha na prática a que te vais entregar em nome do Pai, do Filho e do Santo Espírito, Adorável Trindade. Amém.

Procurarás, primeiro, tomar o primogénito de Saturno, que nada tem a ver com o vulgar, 9 partes, do sabre de aço do Deus guerreiro, 4 partes. Fá-los rubificar num cadinho. Quando estiver vermelho fundente lança 9 partes de

Saturno dentro, como te disse. Este comerá rapidamente o outro: limpa muito bem as escorias fecais que sobem da Satúrnia com salitre e tártaro, por quatro ou cinco vezes. Estará bom quando vires um sinal astral sob o régulo, em forma de estrela.

Então, do ouro faz-se a chave e o cutelo que abre e corta todo o metal, sobretudo o sol, a lua e mercúrio, todos os quais come, devora e guarda no seu ventre. Terás feito entendimento correto e caminho frutuoso se trabalhas-te

como é mister, porque este elemento saturnal é a erva real triunfante pois ela é a lua, pequeno rei imperfeito que promovemos ao grau da maior glória e honra e que é também a rainha, ou seja a lua e a mulher do sol.

Assim, é macho e fêmea, o nosso hermafrodita, que é o mercúrio e aquela obra em imagem da sétima folha e primeira dádiva do Judeu Abraham, a saber, duas serpentes em torno de uma vara de ouro, tal como verás neste

livro que fiz eu mesmo consoante a minha fantasia, o melhor que pude figurar, para discernimento e como documento filosofal. Cuida, então, de conseguir bom fornecimento e provisão, porque é mister que obtenhas muita

quantidade, 12 ou 13 libras, talvez mesmo mais, se quiseres trabalhar em muitas operações. Casarás, então, o jovem mercúrio, ou seja, o azougue com aquele, o mercúrio filosofal saturnial, a fim de que,

através dele, possas animar e fortificar o dito azougue corrente por 7, até mesmo 10 a 11 vezes com o supracitado agente, chamado chave ou sabre de aço afiado, para que corte eficazmente e penetre no corpo dos metais. Quando

alcançares esta matéria, possuirás a água dupla ou tripla, pintada na imagem da Roseira do livro de Abraham o Judeu, a qual sai da base de um carvalho, ou seja, da nossa Satúrnia, que é a chave igual, e vai precipitar-se nos

abismos, como o afirma o dito judeu, quer dizer, no receptor que está unido ao colo da retorta, aonde se vai lançar o referido mercúrio duplo, por arte e engenho dum fogo proporcionado e idóneo.

Mas aqui encontra-se um espinho angustioso, impossível mesmo com que trabalhar se Deus não revela o referido segredo ou o mestre não o transmita, porque o mercúrio não se conjuga com a Satúrnia régia sem uma coisa que

está oculta no correção engenho de examinar como se faz e labora, porque se não conheces como se faz a bravura e a paz do citado azougue, nada encontrarás que valha. Assim, caro e amado sobrinho, como não pretendo

esconder-te nada, antes dizer-te tudo sem nada guardar e mostrar-te como deves descobrir corretamente, passo a passo, o que é mister nesta maestria filosofal, dir-te-ei que, sem sol e a lua, não te será proveitosa a dita obra. Farás,

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pois, comer aqueles pelo nosso ancião ou lobo voraz, o ouro ou a prata, como te direi. Presta toda a atenção às minhas explicações para que não erres e falhes coisa alguma, como me aconteceu nesta tarefa. Como se deve,

então, dar a comer o ouro ao nosso velho dragão? Reflecte direito, com bom senso, porque se dás pouco ouro à Satúrnia fundida, resulta muito bem aberta, mas o azougue não tomará vida; eis uma coisa incongruente que não

será útil, em que trabalhei muito, cheio de tristeza, antes de encontrar a correcta maneira de o fazer. Assim, se lhe dás a devorar muito ouro, não ficará tão aberta e disposta, mas absorverá logo o azougue e se conjugarão ambos em

pasta. Faz como viste fazer. Nota que é preciso manipular em tudo conforme os pesos de que falo, pois sem isso não trabalharás em teu proveito, mas em teu detrimento, recorda-te disto. Eis o procedimento encontrado. Guarda,

pois este segredo, porque nele está tudo e não o escrevi jamais sobre papel, nem qualquer outra coisa que se possa ver escrita, porque seriamos causa de dano para o universo profano. Ora, o que transmito é sob o sigilo rígido do segredo da consciência, pelo amor que te dedico.

Toma X partes de ouro fino, limpo e purgado 9, 10 a 11 vezes unicamente pelo lobo voraz e, em seguida 11 partes

de Satúrnia real, e funde-os num cadinho. Quando estiver em fusão, lança dentro X de ouro fino, funde os dois e revolve com carvão ardente. Teu ouro reagirá um pouco. Deita-os num mármore, moído em pó com 12 de azougue.

Fá-los ficar como manteiga ou queijo, moendo e agitando um e outro, aqui e ali, de quando em quando, lavando com água limpa vulgar, até que a água saia clara e a massa pareça clara e branca (farás assim com a lua fundida).

Está feita a sua conjugação com a Satúrnia real solar. Logo que fique como manteiga, tomarás a massa, que secarás lentamente com um pano ou tecido fino, com muita arte. Eis o nossos chumbo e a nossa massa do ouro e da lua,

não vulgares, mas filosóficos. Coloca-os, agora, numa boa retorta de barro refractário, preferível de aço, depois num forno, e dá-lhe fogo, aquecendo pouco a pouco. Acopla um receptor adequado na retorta durante duas horas e

aviva, depois, o teu fogo tanto, que o mercúrio passe para o receptor. Este é o mercúrio ou água da roseira florescente, o sangue dos inocentes, pois é a água do ouro e da lua filosofais. Podes crer que aquele mercúrio

devorou um pouco do corpo do Rei e poderá dissolver com muito mais poder o outro, que será, mais adiante, muito mais aberto pelo corpo da Satúrnia.

Terás, assim, subido um degrau ou escalão na escada da arte. Toma já as fezes da retorta, funde-as no cadinho a fogo forte, extraindo todo o fumo saturnino, e quando o ouro em fusão estiver limpo, infunde dentro, como da

primeira vez, dois de Satúrnia. O sol IX infuso nas ditas fezes é muito mais aberto que da primeira vez, e como o mercúrio está agora mais ácido que antes, terá adquirido muito mais força e vigor para escrutar e, por assim dizer,

(Página 6)
de devorá-lo e encher e seu ventre pouco a pouco. Tem em atenção, caro sobrinho, os graus do engenho da Natureza e da Razão, para que subas por escalões ao mais elevado nível da Filosofia, que é, sobretudo, o curso da

Natureza e que jamais encontrarias se não te transmitisse esta maestria. Bendiz o Senhor pelo que me concedeu para te confiar, porque sem isto de nada te serviria trabalhar, como alguns e fazem com prejuízo de muito pecúlio,

infinitas penas e trabalhos, vigílias ansiosas e deprimentes preocupações. Faz, então, como das primeiras vezes, casa com o mercúrio saído, já citado, robusto em graduação, pulverizando e pilando, para que extraia toda a

negrura, e seca como te disse. Mete tudo na referida retorta e faz como tens vindo a fazer, durante duas horas a fogo lento e adequado, depois forte e bom, para forçar o mercúrio a sair para o receptor. Terás o mercúrio muito mais liquefeito e alcançarás nesta altura o segundo degrau da escala filosófica.

Continua a trabalhar como tens vindo a fazer, lançando o filho saturnino em peso conveniente, pouco a pouco, manipulando com discernimento, nem de mais nem de menos, como fizeste no começo, até que alcances o décimo

degrau da escada. Repousa, então. Possuis já o dito mercúrio ígneo liquefeito completamente emprenhado e carregado de enxofre macho e do vigor do sal astral que provém das mais profundas cavernas e vísceras do ouro e

do nosso dragão saturnino. Acredita que te escrevo coisas que nenhum Filósofo jamais disse ou escreveu. É o maravilhoso caduceu sobre que discorrem todos os sábios nos seus livros, afirmando que ele tem o poder, só por si,

de realizar toda a obra filosofal. Suas afirmações são verdadeiras, como eu mesmo descobri sozinho ao trabalhar com este mercúrio, tal como poderás conseguir, se tiveres isto em mente, pois que este, e não outro, constitui a

natureza próxima e a raiz de todo o metal. Trata de possuir este mercúrio, e não outro licor, como cuidam alguns néscios e loucos que não refletem que estes metais são feitos do licor que o referido mercúrio reduz, dissolvendo

em licor o sol e a lua, a fim de preparar natural e simplesmente a tintura filosofal ou o pó de projeção, capaz de transmutar todos os metais em sol e lua, que alguns julgam, satisfeitos, terem alcançado, quando possuem este

mercúrio, celestial apropriado, mas falham muitíssimo nisto, enfrentando desgostos antes de colher a rosa, por falta de entendimento.

É bem verdade que se eles conhecessem as proporções e o regime do fogo corretamente, não teriam de se esforçar muito e não poderiam errar, ainda que o quisessem, mas nesta arte é assim o modo de trabalhar. Escuta e procura

fazer como te ensino. Em nome de Deus tomarás, então, do teu mercúrio animado 2 ou 4 partes como quiseres, colocá-las-ás num matrás obtuso sós ou com dois de Satúrnia solar, sendo uma de ouro e duas de Satúrnia, tudo

amalgamado como manteiga, com cuidado e destreza, lava, limpa e seca. Cerra por cima com boa cera, ou seja, o luto da sapiência. Coloca esta confecção como a galinha choca os seus ovos. Deixa o mercúrio assim preparado

seguir o seu curso por alguns dias, isto é, a saber durante 40 ou 50 dias até que vejas formar-se no vaso um enxofre branco ou vermelho de sublimado filosofal, o qual sai dos raios do dito mercúrio. Colhe-os com uma pluma, porque são o ouro e a prata vivos que o mercúrio da à luz, para fora de si.

(Página 7)
GIRO DE RODA

Toma agora estes enxofres brancos ou vermelhos, tritura em almofariz de vidro ou de mármore, umedecendo-os com a terça parte do seu peso do mercúrio, donde foi extraído por sublimação, tendo o enxofre saído da

putrefação daquele. Faz de ambos uma pasta semelhante à manteiga, remete esta mistura num matrás cerrado ao forno, com fogo adequado e suave de cinzas, conforme o entendimento filosofal, coze até que o mercúrio se tenha

transformado em enxofre. Durante a cozedura observarás coisas surpreendentes no teu vaso, tais como todas ascores do mundo, o que não poderás admirar sem elevar o teu coração a Deus, em acção de graças a tão elevadodom.

Quando chegares ao vermelho púrpura, colhê-lo-ás, pois está elaborado o pó alquímico capaz de transmutar qualquer metal em ouro fino, puro e límpido, que poderás multiplicar, umidecendo-o, assim como fizeste,

pulverizando com novo mercúrio, cozendo no mesmo vaso, mesmo forno e mesmo fogo. Operação muito mais curta, contudo, sua força terá dez vezes mais poder. Eis a plena maestria com o único mercúrio, que alguns não acreditam ser verdadeiro porque são surdos e imbecis, incapazes de produzir tal obra.

Se desejas trabalhar por outra via, toma ouro fino, três partes em pó ou em folhas muito bem laminadas, prepara uma pasta com 7 partes do teu mercúrio filosofal, a nossa lua. Coloca isto num matrás oval ao forno, muito bem

lutado, e aplica fogo muito forte, assim como se mantêm para o fogo de fusão do chumbo sem assentar ou coagular, porque logo se encontra o modo correto de regular o regime do fogo, e o teu mercúrio, que é vento filosofal, sobe e desce sobre o corpo do ouro, que devora pouco a pouco e que transporta em seu ventre.

Coze tanto que o ouro e o mercúrio não subam e desçam mais e se mantenham ambos copulados e esteja consumada a paz e o acordo entre os dois dragões, que são fogo e água unidos. Agora, terás em teu vaso um

aspecto negro, assim como pez dissolvido, a marca da morte. A putrefacção do ouro é a chave de toda a maestria.

Ressuscita-o e regenera-o, cozendo-o durante 40 dias, não te enganes, logo aparecerão mutações diversas, tais como a cor negra, cinzenta, verde, branca, alaranjada e, por fim, um vermelho como sangue ou de papoila

carmesim. Não te preocupes senão com esta última, porque ela, com ela, o verdadeiro enxofre chegou ao fim e possuis o pó alquímico. Não te referirei o momento justo, pois isto dura em função da habilidade de trabalhar, contudo, não poderás falhar se fizeres o que te ensino.

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MULTIPLICAÇÃO

Se desejas multiplicar a pedra, ouve. Toma uma parte dela, multiplica-a com duas partes do teu mercúrio animado, coze como fizeste nos matrases após teres feito deste uma pasta mole e macia, no mesmo forno e no mesmo fogo.

Em muito menos tempo estará realizado o segundo termo da roda filosofal e o pó adquire dez vezes mais poder do que no seu primeiro nascimento. Procura dar-lhe mais uma volta ou mesmo mais, se quiseres, e terás concluído o

tesouro sem preço, o melhor que existe no mundo inteiro, além do qual não podes aspirar mais. Possuirás saúde riquezas se o usares como deves. Terás o tesouro que concede toda a felicidade mundana e que eu, pobre rural

nativo de Pontoise, fiz e realizei por três vezes na minha casa da rua dos Escrivains, muito perto da capela de St-Jacques-de-la-Boucherie e que eu, Nicolas Flamel, te concedo pelo amor que te dedico e em honra de Deus,

para sua Glória e louvor do Pai, do Filho e do Espírito Santo, a sagrada Trindade, a quem rogo que, a partir deste momento, te ilumine e conduza no caminho da verdade, da luz e via da salvação. Assim seja.

O FERMENTO

Repara, agora, na boa forma de trabalhar, para levedar a pasta filosofal e obrigá-la a aumentar mediante o fermento idóneo e filosofal. Tomarás três partes de ouro fino em pó e seis partes de mercúrio animado com uma parte e meia

de enxofre vermelho. Junta estes ingredientes, pulveriza-os num almofariz de vidro, numa espécie de manteiga ou queijo, coloca este composto em um matrás calafetado a fogo de calor de galinha. Não te canses de cozer e verás

uma coisa maravilhosa, de que o entendimento humano nada pode dizer, nem negar jamais, de tal modo é bela a obra da natureza com as mutações que se vêem de todas as cores, que deslumbram e ofuscam os olhos do

manipulador tão intensamente como nenhuma outra coisa do mundo o faria. Então, em tempo preciso, observarás que o teu vaso contém pó vermelho vivo, de cor sanguínea, como púrpura. Eis completa a arte da alquimia

filosofal, na verdade, um milagre tão grande que não se acredita. Não me canso de afirmar que possuirás este tesouro mundano. Fica sabendo que cura todas as doenças, quaisquer que sejam, até mesmo toda a enfermidade

que o médico é incapaz de curar, a não ser o médico filosofal. A partir daqui transmuta qualquer metal em estado de fusão no cadinho, através da injunção deste mesmo mercúrio na ebulição, em ouro fino, puro, limpo e colorido

resistente a todo o julgamento dos homens, do fogo, até mesmo do chumbo e do lobo voraz, um ladrão que arrebata tudo além dele, mas ainda melhor, transforma calhaus e cristal de minério ou de rocha em rubis finos.

(Página 9)
PARA PRODUZIR FRUTOS DA PRIMAVERA NO INVERNO

Podes fazer ainda uma outra coisa, a saber, se desejas flores e frutos no frio do Inverno dissolve 6 grãos do referido pó vermelho à saída do vaso em 10 pintos de água de orvalho tépido e rega tal árvore ou flor que queiras,

colocando-as dentro da casa ou cobrindo-as com uma palha ou feno. Verás, em pouco tempo, uma súbita e maravilhosa vegetação e crescimento, o que muito te surpreenderá.

MANEIRA DE USAR A MEDICINA

A fim de te informar como se deve usar esta medicina para a saúde do teu corpo e da tua memória, advirto-te que, ao sair do vaso quando está purpúrea, deves diluir, isto é, dissolver alguns grãos em vinho branco ou aguardente,

até que o vinho esteja colorido, dourado apenas, pois é a marca certa. Não receies de ministrar ao doente 12 ou 15 gotas em vinho, caldo ou outro licor. Como que por milagre, logo estará curado. Não te jactes nunca disso, porque

os homens são malvados e invejosos, quando incapazes de fazer o mesmo que os outros. Assim, para que mantenhas a saúde quotidiana, toma 9 gotas dela, dissolvida e dourada, em quatro alturas do ano, ou seja, em 22 de

Março, 22 de Junho, 22 de Setembro e 22 de Dezembro, no licor que preferires. Utilizando-a como te ensino, não padecerás jamais de enfermidades e gozarás uma vida feliz, cheia de saúde e de riquezas, serás senhor de toda a

natureza, pois possuirás mas pedras preciosas, ouro e prata que príncipes e reis.

(Página 10)
COMO SE PREPARA O PÓ DE PROJEÇÃO A PARTIR DO ELIXIR

Eis como se procede. Funde num cadinho 10 onças de ouro fino e lança dentro, sobre o ouro fundido, uma onça do pó vermelho. Deixa em fogo muito forte durante duas horas, retira logo o cadinho, deixa arrefecer, parte-o e verás

no fundo um vidro vermelho, que é o ouro exaltado, pó verdadeiro e régio capaz de transmutar todos os metais em ouro puro, melhor do que se encontra nas minas. Podes, assim, dispor de muitas fortunas, o que não conseguem os

reis sem reclamar dos outros. Procede, pois, caro sobrinho, como eu, ao socorrer os pobres, nossos irmãos em Deus, ornamentar os templos do nosso Redentor, libertar das prisões muitos cativos detidos por dinheiro, e a boa

leal utilização que farás conduzir-te-á ao caminho da glória e salvação eterna, na mansão de Deus, que eu, Nicolas Flamel, te desejo em nome do Pai Eterno, do Filho Redentor e do Santo Espírito Iluminador, a Santa sagrada e adorável Trindade, Amém.

Trata de moer o vidro vermelho e de o colocar num matrás guardado. Quando desejares fabricar ouro a partir do chumbo, estanho, latão, prata ou mercúrio, fá-los fundir num cadinho e purga-os aí, exceto a lua e o mercúrio.

Logo que fumeguem, lança em cima 30 ou 40 libras deste mercúrio, ou do outro de que te falei, 5 ou 6 grãos de pó multiplicado e envolto em cera. Ficarás surpreendido por encontrá-los transmutados em ouro. As fezes saídas à

parte dos referidos metais, reduzidas a cor de cinza, passá-la-ás pela fornalha e, se estiverem demasiado vermelhas e esmagadas em pó, faz fundir prata e lança em cima a massa vermelha moída, ou, se preferires, casa com o

mercúrio, passa tudo pela fornalha, e Saturno, Júpiter, Marte ou Sol, Mercúrio e Lua ficarão finalmente suaves e coloridos como convém. Recorda-te de dar graças a Deus.

(Página 11)
Eis toda a maestria, que te dispenso sem omitir nada, meu caro e amado sobrinho de minha tão querida mulher Perrenelle. Bendito seja Deus. Amém.

Repara que a primeira imbibição com este pó vermelho transmuta uma parte em cem partes. Uma da segunda, mil partes: da terceira, dez mil: da quarta, cem mil, sempre mais e mais forte, coisa que não poderás compreender se não vires com os teus próprios olhos.

Assim, se pretendes fazer muito ouro, caro sobrinho, o que nunca é aconselhável pelo que pode advir de inconveniência e prejuízo, mete cem onças de azougue num grande caldeirão de ferro, a fogo forte. Quando estiver

quente a fumegar, tem já preparada uma onça de pó escarlate da quarta imbibição, envolve-a com cera como uma pequena bola e lança-a sobre o dito azougue fumegante. O fumo desaparecerá rapidamente. Activa o fogo e logo se

transformará, parte em massa e parte em pó de ouro amarelo, que fundirás em cadinho. Vazarás em massa ou lingote e extrairás de todo este mercúrio cerca de 99.170 onças de ouro puro, de qualidade insuperável, que utilizarás como achares melhor. Eis-te, caro sobrinho, muito mais rico que todos os reis, pois possuirás mais do que

eles e do que podem dispor em todo o seu reino mundano. Mas não produzas ouro senão pouco a pouco, com prudência, sem revelar nada a ninguém e sem confiar jamais nos outros.

Desvendei-te o tesouro de todos os tesouros deste mundo, que possuí e fiz pelas minhas próprias mãos com a minha

tão querida e bem amada companheira Perrenelle. Usa, pois, deste tesouro em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo, para que vivas sem preocupações, rico neste mundo, e alcances a palma de glória no Reino de Deus, o que te desejo. Amem.

Mutus Liber, a alquimia sem palavras..

Nessa postagem vou mostrar para vocês umpouco sobre a linguagem muda Alquimica
Os Filósofos se expressam mais livremente e mais claramente, por caractéres e figuras enigmáticas, como linguagem muda.
MUTUS LIBER é um clássico iconográfico da literatura alquímica.
A melhor edição comentada de MUTUS LIBER tem po nome "L'Alchimie et son Livre Muet" de Eugène Canseliet, F.C.H., discípulo de Fulcanelli, editado por Jean-Jacques Pauvert, cuja tradução em lígua espanhola foi editada por Luís Cárcamo, Editores, primeira edição de 1981, Madrid, Espanha, baseado na primeira edição original de La Rochelle, de 1677.
No Brasil foi editado o seguinte com comentários: "MUTUS LIBER , O livro mudo da alquimia" ; Ensaios introdutórios e notas de JOSÉ JORGE DE CARVALHO; ATTAR EDITORIAL, São Paulo, SP, 1995

Veja as imagens do Livro Abaixo:

sábado, 11 de agosto de 2012

Conceitos basicos da Alquimia (em 4 páginas)

(Pagina 1)
Os quatro elementos e os três princípios

 A alquimia além do aspecto espiritual, constituí uma verdadeira ciência que tem como finalidade compreender a matéria e o cosmo, ou seja, o microcosmo e o macrocosmo, além de tentar reproduzir de forma mais rápida o que a natureza leva milênios para conseguir. Como em qualquer área de conhecimento, a alquimia possuía uma linguagem própria. Para tentar transmitir conhecimentos que não haviam palavras específicas para expressar eles utilizaram termos conhecidos, que transmitia uma idéia rudimentar de algum evento. Assim utilizavam os termos Água, Terra, Ar e Fogo para explicar os quatro elementos, correlacionando-os respectivamente com o estados líquido, sólido, gasoso e a energia. O fogo simbolizava todos os tipos de energia, inclusive a energia imaterial dos corpos, o "éter", ou estado "etéreo". O conceito de estado gasoso não ficou conhecido pelo ocidente até o século XVIII com as pesquisas de Lavoisier. Isto demonstra o quanto os Alquimistas estavam adiantados em relação aos sábios de seu tempo.


Água - penetrante, dissolvente e nutritiva

Terra - solidez que estabiliza a matéria, suporte para o líquido

Ar - gasoso, expansivo, volátil

Fogo - energia que acelera o processo, aquece, ilumina

A Quintessência - Éter - equilibra e penetra nos corpos, é a força viva

A terra e a água constituem estados visíveis, enquanto o fogo e o ar são estados invisíveis.

(Pagina 2) 
Os quatro elementos porém não eram suficientes para expressar todas as características e assim os alquimistas adotaram os termos Enxofre, Mercúrio e o Sal para expressar os três princípios e, da mesma maneira que os quatro elementos, não representavam as substâncias mencionadas em si, mas sim as suas propriedades materiais que poderiam ser retiradas ou acrescentadas as substâncias, possivelmente por reações químicas ou transmutações.

Enxofre - princípio fixo - representa as propriedades ativas - combustibilidade, a ação corrosiva, o poder de atacar os metais, e também o princípio ativo ou masculino, o movimento, a forma, o quente. É considerado o embrião da pedra e alimentado pelo mercúrio, pois está contido em seu ventre. Também é considerado a energia animadora e constitui o objetivo da Grande Obra.

Mercúrio - princípio volátil - representava as propriedades passivas - maleabilidade, brilho, fusibilidade, a fraca tensão de vapor, o escorregadio que toma várias formas e o fugidio. Além de designar a matéria, designa também outros aspectos como: o princípio passivo ou feminino, o inerte, o frio.

O mercúrio também pode designar a matéria-prima, é considerado a mãe dos metais ou a água primitiva que deu origem a todos eles. Este é o mercúrio segundo, mercúrio filosófico ou mercúrio duplo que contém os dois princípios, o mercúrio e o enxofre.
O primeiro mercúrio ou mercúrio comum também é chamado de dissolvente universal.
O mercúrio é ao mesmo tempo o caminho e o andarilho, com a Grande Obra representando uma viagem.
Estes dois princípios possuem as propriedades contrárias e a mistura de propriedades contrárias é muito importante na alquimia, ou seja, o dualismo enxofre-mercúrio de todas as coisas.
O mercúrio também é chamado de sal dos metais. Na realidade o mercúrio no final da obra adquire a tríplice qualidade.

Sal - também conhecido por arsênico - é o meio de união entre as propriedades do Mercúrio e as do Enxofre, como uma força de interação, muitas vezes associado a energia vital, que une a alma ao corpo. No ser humano, o

enxofre seria o corpo físico; o mercúrio, a alma e o sal, o espírito mediador.

Esse sal normalmente é relatado como sendo um fogo aquoso ou uma água ígnea e é obtido a partir do mercúrio comum em conjunção com o fogo, obtendo assim a chamada “água que não molha as mãos”. Assim como o mercúrio, o sal também é relatado como sendo o dissolvente universal. Na verdade o fixo e o volátil nunca podem estar separados, não existe mercúrio que não contenha o enxofre, por isso, as vezes o sal aparece com o nome de um deles dependendo da fase da operação.

O sal protege os metais para que no processo não sejam totalmente destruídos e reste assim a semente, que por seu intermédio nascerá algo novo.

(Pagina 3)
A unidade da matéria e do universo
O mundo é como um grande organismo (macrocosmo), enquanto que o homem é um pequeno mundo (microcosmo), esta é uma das interpretações da frase: “O que está em cima é como o que está em baixo”. O próprio laboratório do alquimista é um microcosmo onde ele tenta reproduzir de maneira mais acelerada um processo semelhante ao da criação do mundo.

Toda matéria (por matéria fica entendido tudo que existe no universo, até mesmo a energia pode estar revestida pela matéria) é constituída de uma mesma unidade comum a todas as substâncias. A partir desta “semente” pode-se produzir infinitas combinações e infinitas substâncias. O símbolo alquímico do ouroboros, que é a figura de uma serpente mordendo a própria calda formando um círculo, representa estas constantes transformações em que nada desaparece nem é criado, tudo é transformado como o princípio da conservação de energia, ou primeira lei da termodinâmica, postulado muito tempo depois.

Portanto, esta unidade da matéria é única e a mesma para todas as coisas, podendo combinar-se produzindo uma variedade infinita de substâncias e energias. Matéria e energia provém de uma mesma entidade. Einstein unificou a interconversão entre matéria e energia, na equação E=m.c2 (E = energia liberada; m = matéria transformada e c = velocidade da luz).

Os alquimistas procuram reduzir a matéria à unidade comum, que não são os átomos, para assim poderem reestruturá-la, tornando possível a transmutação. Esta unidade da matéria constitui tudo que existe, desde os átomos que se combinam para formar as moléculas e estas irão formar outras substâncias mais complexas, os organismos até os planetas que formam os sistemas e galáxias. Portanto, todas as coisas possuem a mesma unidade fundamental, este é o postulado fundamental da alquimia "Omnia in unum" (Tudo em Um).
O caos primordial que deu origem ao universo é comparado no reino mineral à matéria-prima, que é uma massa em estado de desordem que dará origem à pedra filosofal.



(Página 4)
Deus - o mundo celeste e o terreno

 Tudo o que existe material ou espiritual constitui uma única unidade. O divino é expresso como sendo “o círculo cujo centro está em toda parte e a circunferência em parte alguma”. Portanto, todas as coisas surgiram do mesmo Criador, o mundo terreno é constituído pelos mesmos componentes que o mundo celeste.
Um dos grandes problemas de compreensão dos fundamentos da alquimia consiste na interpretação do espírito que só pode ser compreendido remontando a uma memória muito antiga, da época em que todos os seres do mundo celeste e do mundo terreno se comunicavam e o espírito circulava livremente entre todos os seres.
Muitos alquimistas foram grandes profetas como Nostradamos, Paracelso, dentre outros e todos eles acreditavam que em breve, no fim de mais um ciclo terrestre, haveria uma grande catástrofe que seria um novo começo para a humanidade. Restaria uma consciência coletiva, a mesma que deu origem a alquimia em outros ciclos.

O dualismo sexual
 A energia original é criada pela junção dos princípios masculino e feminino (sol e lua). Muitos alquimistas constituem casais na busca da Grande Obra, porém para que ocorra uma perfeita união alquímica este casal, ou seja, estas duas metades devem ser complementares formando um único ser (como a figura alquímica do andrógino). Contudo é muito difícil encontrar um par que produza uma união tão perfeita.

O Cosmo
 O cosmo é visto como um ser vivo sendo que seus constituintes tem espírito e propósito definido. As estrelas exalam um campo de energia que pode ser sentido e utilizado pelo homem e assim obter as transformações.

A vida
 Existe uma crença na alquimia da criação artificial de um ser humano, o homúnculo ou Golem, porém estes relatos de alguns alquimistas célebres poderia referir-se de forma figurada ao processo de fabricação da pedra filosofal, onde o homúnculo representaria a matéria prima para a fabricação da pedra ou então uma fase da iniciação em que o homem ressurge após a morte do outro já degradado.
Na concepção alquímica tudo o que existe é vivo, até mesmo os minerais. Os metais vivem, crescem, reproduzem-se e evoluem. Portanto qualquer metáfora sobre seres vivos podem estar referindo-se também ao reino mineral.
A natureza e todos os seus constituintes devem ser respeitados para que a harmonia perfeita possa ser mantida. Esta consciência opõe-se claramente a forma de encarar a natureza até hoje, em que esta deve ser explorada o máximo possível e ainda consideram isto a evolução da humanidade. Reaprender a ver, sentir e ouvir a natureza, significa incorporar-se  a ela, para relembrar o remoto passado quando fazíamos parte dela integralmente.

O amor
 Todo o conhecimento alquímico está alicerçado no amor e por isso inacessível aos processos científicos atuais.
A união pelo amor está sempre presente em qualquer obra alquímica representando uma energia que une dois princípios ou dois materiais, tornado-os um só. De forma figurada é descrita como o casamento do Sol e da Lua, do enxofre e do mercúrio, do Rei e da Rainha, do Céu e da Terra ou do irmão e da irmã, por terem vindo da mesma raiz ou mesma substância.

Astrologia
 Na alquimia a astrologia exerce um papel fundamental desde a escolha do momento certo para o início da obra, da colheita dos materiais utilizados, até o momento mais propício para o alquimista trabalhar.

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